Aquela tarde no parque, em plena primavera, parecia um tremendo pesadelo. O dia estava lindo, as flores estavam lindas, não havia nada imperfeito. Exceto Ela. Mas se tudo estava perfeito, como poderia Ela não estar englobada no tudo? É simples. Ela não tinha tudo, Ela tinha nada. Mas quem iria se importar com Ela, num dia perfeito de primavera?
Ideias navegavam à deriva no mar de sua mente. Sem ninguém, completamente sozinha, pensava em como seria fazer parte do tudo. Seu esforço para mover os olhos a concebia a visão de um casal de mãos dadas, observando as Gracídeas. Por muito tempo manteve-se observando-os, até que discutiram e tomaram caminhos divergentes. Em questão de minutos, ambos voltaram, a saudade era maior que o ego. Beijaram-se, abraçaram-se, riram e choraram.
Como seria fazer parte do tudo?, Ela pensou de novo. Sentir o amor parecia tão bom, Ela queria experimentar. Guiou seu olhar agora para um grupo de amigos. Ela conhecia todos. Eram seus amigos, e entre eles havia Ele. Ele, que um dia fora tudo, hoje Ela sabe que foi Ele a reduzi-la ao nada. Vê-lo sorrindo com seus amigos a deixava com raiva. Era egoísmo de sua parte pensar que seus amigos não poderiam ser dele também. Mas Ela não se importava em sentir isso. Ela amava Ele, desejava sair do nada e voltar ao tudo. Mas esse tudo era cruel. Não podia ser como Ela queria. Isso era o pior. Ninguém era o que ela queria. Mas o que ela queria? Ela queria tudo. E o que era tudo? Tudo era Ele. Tudo foi quem a deixou no nada. Tudo foi o que Ela perdeu. Tudo é o que ela acreditou que tinha e acabou descobrindo o contrário.