segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Pensamentos

    Aquela tarde no parque, em plena primavera, parecia um tremendo pesadelo. O dia estava lindo, as flores estavam lindas, não havia nada imperfeito. Exceto Ela. Mas se tudo estava perfeito, como poderia Ela não estar englobada no tudo? É simples. Ela não tinha tudo, Ela tinha nada. Mas quem iria se importar com Ela, num dia perfeito de primavera?
    Ideias navegavam à deriva no mar de sua mente. Sem ninguém, completamente sozinha, pensava em como seria fazer parte do tudo. Seu esforço para mover os olhos a concebia a visão de um casal de mãos dadas, observando as Gracídeas. Por muito tempo manteve-se observando-os, até que discutiram e tomaram caminhos divergentes. Em questão de minutos, ambos voltaram, a saudade era maior que o ego. Beijaram-se, abraçaram-se, riram e choraram.
    Como seria fazer parte do tudo?, Ela pensou de novo. Sentir o amor parecia tão bom, Ela queria experimentar. Guiou seu olhar agora para um grupo de amigos. Ela conhecia todos. Eram seus amigos, e entre eles havia Ele. Ele, que um dia fora tudo, hoje Ela sabe que foi Ele a reduzi-la ao nada. Vê-lo sorrindo com seus amigos a deixava com raiva. Era egoísmo de sua parte pensar que seus amigos não poderiam ser dele também. Mas Ela não se importava em sentir isso. Ela amava Ele, desejava sair do nada e voltar ao tudo. Mas esse tudo era cruel. Não podia ser como Ela queria. Isso era o pior. Ninguém era o que ela queria. Mas o que ela queria? Ela queria tudo. E o que era tudo? Tudo era Ele. Tudo foi quem a deixou no nada. Tudo foi o que Ela perdeu. Tudo é o que ela acreditou que tinha e acabou descobrindo o contrário.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Tormento

   O combate na madrugada escura da oriental Cidade de Malie se desenvolvia com uma intensa troca de golpes. De um lado, o Kahuna Nanu, um policial especialista em Pokemon obscuros, que combatia com Lara, uma treinadora que venceu as provas de Ula'ula e agora almejava avançar em seu desafio pelas ilhas de Alola.

 — Você consegue, Lycanroc! — bravou a menina, enquanto seu parceiro saltava para perto de si para descansar depois de um Counter.

    Com sua personalidade fria, o Kahuna se perguntava como a garota sorria durante a batalha, uma vez que apenas seu Persian já havia derrotado três Pokemon dela sem quase receber danos. O restante de sua equipe já haviam sido derrotados. A menina parecia um boneco aos olhos do velho policial, que se irritava com a felicidade dela. Não conseguia mais segurar o que estava sentindo e, por impulso, soltou tudo que queria dizer.

 — Você por acaso está brincando? Não sou um Youngster, garota. Você passou por duas provas em Ula'ula, eu fui escolhido por Tapu Bulu, não pode levar essa batalha como algo qualquer!

 — É apenas uma batalha, não vou deixar isso me estressar. Além de tudo, confio na minha equipe, sei que eles são capacitados.

 — Uma batalha se resume em confiar na sua equipe, então? — perguntou o Kahuna, comandando para Persian criar uma pulsação com as sombras da madrugada e a disparar para o chão, nocauteando Lycanroc por baixo.

 — Acho que ter confiança, se esforçar e ser determinada são coisas essenciais — respondeu Lara, regressando Lycanroc e liberando seu último Pokemon, uma Toxapex.

 — Nada disso importa, eu aprendi com a vida. São sentimentos bobos, quanto mais você se esforça, maior é a chance de se decepcionar ao errar. Determinação não o ajuda em nada e confiança é a ilusão de que as pessoas se preocupam de verdade com as outras.

   Quando Nanu se calou, Lara não disse mais nada. Toxapex destruía um Swift de Persian usando Poison Sting e logo se aproximava com Poison Jab. O Kahuna começava a perder as rédeas do combate. Sentia pontadas em sua cabeça, uma dor infernal, mas já havia tomado seu remédio para isso. Em sua cabeça, memórias de anos atrás, dos tempos que era um membro da Polícia Internacional.

 — Há dez anos, saí em missão para capturar uma besta que surgiu em nosso mundo. Minha equipe era composta por outro membro da Polícia Internacional e uma garota, jovem como você, que tinha o dom de localizar essas bestas por já ter passeado na dimensão delas. Enfrentamos a criatura num combate, nossos Pokemon eram fracos demais e não resistiram. A besta avançou contra ela, meu parceiro fugiu desesperado, mas eu fiquei e tentei protegê-la — falou, cerrando os punhos. O velho policial Nanu sentia as memórias como se estivessem acontecendo agora, Persian percebeu isso e se aproximou de seu treinador.

 — Nanu, está tudo bem? — perguntou Lara, preocupada com o Kahuna que encostava-se numa árvore.

 — Eu estou bem, Persian, não se preocupe comigo. Só me lembrei daquele dia, minha última missão na Polícia Internacional. Eu não consegui salvá-la, a besta a matou e segurei seu corpo morto. Só saí vivo graças ao seu pai, Persian, o meu antigo parceiro, que deu a vida dele para usar Protect e me proteger. Não adiantou de nada ter determinação ou esforço. No fim, sou fraco. Tapu Bulu provavelmente errou ao me escolher, se não consegui salvar uma única garota, como ele pode me confiar todas as vidas dos habitantes de Ula'ula?

 — Nanu — murmurou a garota, esperando que o Kahuna voltasse para a batalha.

 — Numa batalha o que importa é ser forte. Você nunca vai vencer pensando apenas em emoções.

 — Nanu! — gritou a garota, conseguindo a atenção do Kahuna, que a fuzila com o olhar — Volte para o combate! Não pode carregar esse fardo para sempre!

 — Não carrego fardo algum, você que me fez recordar! Você não sabe como se luta! Como venceu os desafios de Ula'ula? Trapaceou? Roubou as Z-Crystals? Eu sou um policial, sabia?

 — Pare com isso, eu venci por mérito, minha equipe e eu treinamos bastante.

 — Eu vou a mostrar o que é uma prova real! Persian, vamos usar o nosso Z-Move! — gritou Nanu, quase babando de raiva.

    Cruzando os braços, Nanu sente a energia da Z-Crystal presa em seu bracelete fluir em seu corpo. Fazendo a pose do movimento, Nanu ergue seus braços, como se fosse avançar em alguém. Logo, a energia envolveu Persian, que foca sua visão em Toxapex.

 — Black Hole Eclipse! — gritou Nanu, assustando Lara, que forçava seus pés contra o chão diante do poder do ataque de Persian.

   Se envolvendo em escuridão, Persian avança para cima de Toxapex, coletando todas as sombras que conseguia e formando um vórtex que era visto diante dos primeiros raios de sol do dia.

 — Aaah!! Baneful Bunker! — gritou Lara, caindo com tudo no chão.

   Toxapex se envolvia numa camada protetora, mas ao mesmo tempo era sugada para o vórtex negro de Persian, recebendo múltiplos danos. Assim que o Z-Move se encerra, a Pokemon volta para perto de sua Treinadora, com poucas feridas devido seu golpe de proteção.

 — Você foi esperta, garota. Mas isso ainda não muda meu pensamento, tenho a certeza de que a derrotarei aqui e agora.

 — Toxapex, ele apelou para o Z-Move, não temos mais escolha! Eu confio em você, vamos realizar o nosso também! — exclamou, ativando a energia da Z-Crystal em sua pulseira — Hydro Vortex!

   Lara move seus braços como as ondas do mar, passando a energia de seus movimentos para Toxapex, que sorria enquanto encarava Persian. Então a Pokemon se move, criando uma gigantesca onda que alaga o campo e afoga seu oponente. Como um míssil d'água, Toxapex vai ao encontro do gato bochechudo, e ao encontrá-lo gira ao seu redor, criando um tornado de água para o causar múltiplos danos. Assim que o movimento se encerra, Persian é levado pela água para perto de Nanu, que boquiaberto via seu Pokemon inconsciente em sua frente.

 — Como... Como você...

 — Foi ótima, Toxapex! Sabia que tinha potencial desde quando era uma Mareanie no mar de Melemele — falou, sorrindo para sua parceira e a regressando para sua esfera — E então? Você foi derrotado, Nanu.

 — Eu não entendi a minha derrota, mas meu trabalho como Kahuna me obriga a te dar isso já que me venceu. Parabéns ou seja lá o que quiser — falou, entregando uma Z-Crystal para Lara, que agradece com um sorriso.

 — A Ilha Poni é meu próximo destino. Obrigada pela batalha, Nanu. Você me ensinou algumas coisas.

   Então, virando-se de costas, Lara deixa o local. Nanu espera alguns minutos, cura seus Pokemon e então para pra descansar.

 — Qual o motivo de ter me escolhido? — perguntou, sentando-se no campo de batalha esburacado.

    Diante de Nanu, uma névoa vinda do meio das árvores se materializa em Tapu Bulu, o guardião de Ula'ula. O Pokemon encarava o Kahuna, que não olhava em seus olhos, mas sentia sua pressão.

 — Meu desejo? Você me acha parecido com aquela garota? — perguntou, irritado. Tapu Bulu emitiu um grito como resposta, que o Kahuna logo compreendeu o significado — Bulu... Sei como estou agindo, isso não tem nada com o acidente de dez anos atrás!

   Sem dizer mais nada, o espírito guardião de Ula'ula desaparece com a névoa, deixando Nanu solitário mais uma vez. O velho policial pensaria pelo resto da manhã que se iniciava.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Inseguros


   Meu tio sempre me disse que eu poderia fazer qualquer coisa, desde que eu realmente a desejasse. Ele sempre foi um grande incetivo para mim, e acho que para muita gente também. O grande Nicola, o homem que fundou Nimbasa, a cidade mais famosa de Unova e também um dos maiores destinos turísticos mundiais. Agora que ele morreu pela idade, há uma estátua na cidade em sua homenagem.
    Conhecendo o meu tio, sabia que quando essa hora chegasse ele faria alguma coisa especial. Só não imaginava que eu teria algo com isso. Alguns dias atrás, um Pidove me trouxe uma carta dos meus pais. Uma carta que Nicola me deixou, me informando de uma herança dele que agora passará para mim, pois era jovem e tinha meus "pés no chão". Estou seguindo as informações que ele deixou, mesmo com minha insegurança e péssima autoestima, estou fazendo isso por ele, o que me trouxe até o a zona desértica de Unova, uma aventura para os exploradores mais experientes.

 — Zac, use Rock Smash — pedi, e logo meu parceiro, o Boldore Zac, deixou sua Pokeball e quebrou uma rocha que bloqueava uma passagem — Heh, acho que encontramos, companheiro.

   O que meus olhos observavam com um pouco de dificuldade devido às tempestades de areia era o enorme Castelo da Relíquia, o enorme lugar que acredita-se ter sido o coração de uma sociedade que vivia em harmonia com os Pokemon. Mesmo coberto por toneladas de areia eu conseguia ver vestígios de sua pintura esverdeada, assim como partes do castelo que já não existiam mais e agora tornavam-se entradas.
   Desci com Zac até o castelo e consegui espantar um bando de Sandile que dormiam por ali. Posso não parecer, mais já saí em jornada por Unova, não consegui oito insígnias por ter desistido após múltiplas derrotas, mas eu sei como comandar um Pokemon.

~Boldor — murmurou Zac, que caminhava ao meu lado para dentro da entrada do castelo.

 — Está tudo bem, não se preocupe — eu disse, forçando um sorriso. É tudo que eu consigo fazer nos dias de hoje. Forçar um sorriso, dizer que vai ficar tudo bem, mostrar que eu estou bem. Eu sei que meus Pokemon não podem me dizer, mas todos continuam abalados pela minha desistência dos ginásios. Eu falhei com eles, os desapontei, dei esperanças falsas de um sonho meu que talvez fosse possível, mas não é. Então me dou conta de que estou caminhando em direção a sabe-se sei lá onde, não havia iluminação alguma — Vamos precisar da Katy.

   Katy é minha Zebstrika, a primeira Pokemon que capturei vencendo numa batalha. Ela tem a tipagem de Pokemon elétrico, então a trouxe comigo para usar como uma lanterna viva.

 — Agora está muito melhor, garota! — exclamei, elogiando Katy, que sorri como agradecimento.

    Definitivamente o Castelo da Relíquia é um lugar misterioso. Pesquisei antes de vir para cá e só achei depoimentos de pessoas que vieram explorar por aqui, mas nenhum de pessoas que voltaram da exploração. Agora que parei para pensar, estou ficando com medo... As paredes estão cobertas de areia, só vejo pilares e vasos de barro. Alguns Sandile aqui e ali, Woobat e Swoobat descansando pelo teto. Algo estala abaixo de meu sapato, mas não tenho coragem para olhar.

~Boldor!

~Blitz!

 — U-um osso? — me pergunto, então olhando e descobrindo que pisei na ossada de algum explorador que passou por aqui. Mas os ossos não estavam normais, não pareciam quebrados, mas... tinham manchas. Queimaduras, alguns tinham partes comidas, talvez por insetos.

~Blitz! Blitz! — relinchou Katy, batendo as patas e criando um eco pelo local.

 — O que foi, garota? Está sentindo algo?

~Boldor!

 — Heh? Não estou entendendo!

   Minhas Pokeballs se abrem sem que eu comande, e logo o resto da minha equipe estava ao lado de fora. Senti Tony, o Tranquill, pousar em meu ombro. Ludo, o Tirtouga, saltou sobre minha cabeça e se posicionou entre Diego, o Stoutland, e Zac. Katy batia as patas no chão cada vez mais forte, algo estava se aproximando e tudo que eu sentia era medo. Zac, Katy, Tony, Ludo e Diego deixaram suas esferas e estão em posição de luta, devem estar sentindo alguma presença no ar. É então que minhas costas começam a coçar, como se várias formigas caminhassem por elas e dançassem alguma música da Ariados Grande.

~Pruu! — gritou Tony. Não consegui enxergar o que ele fez, mas senti seu Air Slash nas minhas costas, e logo a coceira parou.

 — Tony, que diabos... Woah!

   Ao momento que me virei, um Pokemon fascinante estava diante de mim. Uma espécie de inseto gigante, com suas asas abertas lembrando pétalas de flores flamejantes. Os olhos azuis brilhavam e eu sentia que diziam "Ei, você vai morrer hoje!". Se me pedissem para ser irônico, com certeza eu diria que o que eu via era muito amigável.

~Cacum! — gemeu o Pokemon, incendiando as asas e disparando labaredas na minha direção. Cruzei meus braços na frente de meu rosto, mas Ludo usou Hydro Pump para apagar o fogo com muitas dificuldades.

 — Mas que monstro é esse?! Não é alguma espécie que eu conheça!

~Carooommm! — gritou a criatura, se remexendo e liberando uma onda de minúsculos insetos que nasceram em suas asas para atacarem os meus Pokemon. Se tratava de Struggle Bug.

 — Diego, use Fire Fang! Katy, dispare o Thunder Shock!

   Incendiando suas presas, Diego move seu corpo de cachorro pesado e morde o Pokemon, que como eu pensei era um tipo inseto, já que sofreu muitos danos. Assim que ia revidar, Katy energiza sua crina e descarrega vários choques ao seu redor, formando uma prisão elétrica.

~Cacum!

   Mais uma vez usando as chamas, o Pokemon incendeia o campo elétrico, causando danos em todos os meus Pokemon. Eu costumo conhecer os Pokemon que enfrento, mas aquela espécie eu nunca tinha lido sobre. Um inseto gigante com asas de fogo que habita castelos num deserto? Como isso pode existir?

~Boldor! — gritou Zac, me despertando novamente dos pensamentos. Eu sentia que ele podia me compreender, e sabia que ele tinha certeza de que eu estava me cagando de medo.

   Na minha frente eu via Tony tentar bicar o Pokemon, um fracasso, acabando por sair com o corpo queimado, me fazendo deduzir que sua habilidade seja Flame Body. Ludo disparava rochas numa tentativa de esmagar o inseto, Katy se aproveitava de sua velocidade para atingi-lo nas costas, Diego recuperava suas energias gastas de um Retaliate e Zac ficava ao meu lado como um guarda costas.

~Boldor!

 — Está tudo bem! Deixe que os outros derrotam ele!

~Boldor!

   Eu não estava entendendo o que Zac queria me dizer. Queria saber falar Boldorenês, mas infelizmente não nasci como um Boldore. Ele parecia irritado, mas não percebo o motivo. Minha insegurança, talvez. Ou será que estou sendo inseguro pensando que Boldore se irritaria com algo que eu convivo faz tempo, mesmo sendo meu parceiro há tanto tempo?

~Boldor!!! — agora gritou, saltando para cima de mim e me derrubando no chão coberto de areia. Por cima de minha cabeça, Ludo e Diego eram arremessados, batendo com tudo numa pilastra e provocando a quebra dos vasos de barro que pareciam estar faz tanto tempo neste cômodo ~Boldor!!

 — O que você quer me dizer? Eu não consigo entender... Mas eu quero!

~Boldor.

   "Você pode fazer qualquer coisa, desde que realmente a deseje." Lembrei das palavras de Nicola, o meu tio. Encarei Zac por alguns segundos, me sentia esquisito olhando para os olhos do pedregulho ambulante que me acompanhava e agora reparava que haviam migalhas em sua boca, dos doces que o dei antes de vir para cá. Mesmo viajando nas ideias, por um segundo senti ouvir a voz dele. Não estava irritado, muito menos frustrado ou incomodado. Zac estava decepcionado. Meus Pokemon enfrentavam uma criatura mortal que quase os queimava vivos em minha frente, e eu não fazia nada, apenas esperava.

 — Zac, Katy, Tony, Ludo, Diego... — murmurei, cerrando os punhos. Repetindo as palavras do meu tio na minha mente, pegando coragem de não sei onde e usando uma força que nem sabia que eu tinha, avancei contra o Pokemon e me arremessei nele, salvando Tony de ser engolido por chamas enquanto Katy se esforçava para manter a eletricidade que iluminava o local. Nem deve ser possível enxergar meus cabelos castanhos agora, já que o meu movimentou fez areia voar para cima de mim.

~Cacum!!

 — Você não vai nos impedir! Estou fazendo isso pelo meu tio! Não é nenhum inseto gigante e feio que vai me impedir de fazer a última coisa que uma das únicas pessoas que acreditam em mim me pediu! — gritei, e por um instante sorri. Senti como se eu fosse um Pokemon e tivesse acertado um golpe crítico, meus pulmões se enchiam com coragem. Mas a realidade bateu na porta da minha casa e eu a recebi literalmente com um murro, porque eu não sei o que o bicho fez comigo, mas eu sei que estava com ódio, me arremessou para outra pilastra do cômodo. Senti minhas pernas falharem e não conseguia levantar, parecia que a minha coluna saiu do lugar, já que sentia uma forte dor. Estava com as pernas cobertas de areia, e quando me dei conta, estava sem calças.

~Cacacacum! — riu o Pokemon, queimando minhas calças com o fogo que suas asas liberavam. Agora eu estava de cuecas com estampa do rosto de um Ducklett, preso num monte de areia e vendo meus Pokemon correrem de um inseto pegando fogo. Que belo dia, não?

 — Zac, preciso que os ajude! Vou improvisar um plano que acabei de inventar — falei, e não menti para meu amigo Boldore. Minha criatividade para inventar coisas era algo que meu tio adorava em mim, dizia que puxei esse lado dele.

~Boldor!

   Conseguindo catar pedaços dos quebrados vasos de barro que estavam ao meu alcance, criei uma fonte de munição. Me imaginei num cenário onde ao invés de mãos eu tivesse metralhadoras, e ao invés de pedaços de barro eu tivesse munições. As vezes eu me impressiono com minha capacidade de sair da realidade.

~Touga! — bravou Ludo, como um soldado. Se sentava nas costas de Diego, os dois já reerguidos e prontos para voltar ao combate. O inseto no momento estava mais preocupado em parar os movimentos de Tony, que usava sua velocidade para o cansar e desperdiçar seus golpes, enquanto Katy aumentava seu poder com Charge.

 — Escutem, vou precisar que façam esse bicho virar na minha direção! — gritei, e todos parecem entender.

~Boldor!

    Zac sempre foi um Pokemon esperto, mas o modo que ele arrumou um jeito para o que eu pedi se tornasse possível nessa situação me deixou boquiaberto. Criando uma avalanche de rochas, Zac dificultou o caminho de Diego e Tirtouga, que sentiam dificuldades em se movimentar sob elas. Distraídos com a situação, Tony e Katy são empurrados para trás, batendo de costas numa parede. O inseto gigante avançava na direção dos novos alvos mais fracos, para tirar vantagem da situação deles. Como previ, a avalanche trouxe os dois para a minha frente, e quanto o Pokemon iria disparar suas chamas, disparei minhas metralhadoras e acertei todas as munições em sua cabeça, arrancando gritos da criatura. A partir de hoje respeitarei sempre os vasos de barro.

~Cacum!! — apenas com seu grito, o Pokemon liberou uma onda de energia que fez todo o castelo balançar. Suas asas se carregam com fogo e ele o dispara para todos os lados, destruindo a avalanche de Zac e derrubando Diego e Ludo.

 — Não! Não! Não era para isso acontecer... Não adianta, por mais que eu deseje vencer, eu não consigo. Não consigo parar de errar em algo. Eu errei em deixar as insígnias por perdemos tanto, retirei confiança de vocês com isso e não retorno para esse caminho por medo de como vão me julgar. Eu não consigo compreender vocês, já que eu também não consigo fazer isso nem comigo mesmo... Eu gostaria de ser um bom treinador para vocês — concluí, enquanto o Pokemon me fuzilava com o olhar. Então percebi o que eu havia dito. Coloquei tudo que sentia para fora e os meus Pokemon pareciam chocados com meu momento.

~Pru!! Pruu!

~Boldor!

~Blitz!

~Touga!

~Couf couf!

   Ainda não falo Boldorenês, Zebstrikano, Tranquilinês, Tirtouguês e Stoutlandico, mas eu juro que entendi tudo que eles gritaram para mim. Tudo que eu já deveria ter entendido, mas demorei tanto por ser como eu sou. Eles não me julgavam por ter abandonado os ginásios, se importavam comigo, estavam ali lutando por mim por esse exato motivo. Poderiam fugir e se salvarem, mas não, estão aqui, diante dos meus olhos, se esforçando para vencer o nosso oponente esquentadinho asqueroso, como o apelidei. Zac, Katy, Tony, Ludo e Diego estavam tentando me dizer isso o tempo inteiro.

 — Vocês... Ahh!, eu amo tanto vocês! Por favor, vamos nos unir agora! Combinem todos os seus golpes, vamos acabar com esse desgraçado! — gritei, sem deixar de olhar nos olhos do Pokemon em minha frente.

   Os momentos seguintes eu não sei como descrever. O Pokemon que poderia ter me matado se moveu muito rápido, tão rápido que me deixou tonto. Ouvi barulhos de trocas de golpes, o que significava que todos os meus Pokemon atacaram e conseguiram nocautear o oponente. Acordei minutos depois, deitando nas costas de Diego, enquanto Tony estava de pé sob minha blusa queimada.

 — Nós... vencemos? — perguntei, novamente percebendo que estou de cueca e vestindo trapos como blusa.

~Boldor! — exclamou Zac, saltando para os meus braços e me derrubando na areia. Olhei para o outro canto do cômodo e vi o Pokemon sem mais forças, com feridas espalhadas pelo corpo.

~Couf! — latiu Diego, e então vi Katy e Ludo empurrando um baú dourado em minha direção.

 — A herança do tio Nicola... — murmurei, abrindo o baú e encontrando a maravilhosa, grandiosa e exuberante herança! Era o que eu queria ter dito. Havia apenas outra carta, colada numa Pokeball grande, velha e roxa — "Querido Mike, essa é a Masterball, a Pokeball suprema que pode capturar qualquer Pokemon sem precisar antes de uma luta. Eu a ganhei quando fundei Nimbasa, como um presente. A verdade é que ninguém sabe o real valor dela, então a confio com você, creio que com o seu jeito de ser você vá conseguir usá-la bem. Está sendo protegida pela minha Volcarona, um dos meus Pokemon mais fortes que confiei ao castelo da relíquia. Sei que saberá quando for a hora certa de usar a Masterball. Além de tudo, se conseguiu vencer a Volcarona, o que eu te disse era verdade. Você pode fazer qualquer coisa, garoto. Não importa como você seja. Se um sonhador como eu fundou uma cidade, quem te impede de virar o Campeão de Unova? Haha!"

~Boldor!

   Assim que terminei de ler, senti o braço de pedra de Boldore enxugar uma lágrima minha. A herança não foi só a Masterball. Nicola me passou sua determinação e fez reacender algo que eu pensava estar morto.

 — Zac, Katy, Tony, Ludo, Diego... O que vocês acham de tentar mais uma vez no ginásio de Nacrene? — perguntei, abrindo um sorriso. Meus Pokemon não tiveram a reação que eu esperava, mas acho que ficaram felizes. Todos começaram a chorar, com exceção de Zac, que improvisava um sorriso — N-não era para chorarem!

~Boldor!

 — É, você está certo, são lágrimas de alegria! — falei, mas logo arregalei os olhos. Eu entendi de novo o que Zac disse. Acho que de fato eu falo Boldorenês.

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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Coisas aleatórias de Leuri



Quando Laura fala com Diego





Elenco de Leuri reagindo ao fim da Fanfic





Leulola




Quando sai cap novo


Quando passa o Diego