— E então, o Guardião dos Mares criou três seres que se tornariam responsáveis por cuidar de cada uma das três ilhas do arquipélago — o homem contava a história, sem precisar ler. As três dobraduras que saltam ao virar a página assemelhavam-se com aves, cada uma pintada de uma cor diferente. Azul, amarelo e vermelho, mais precisamente — Sabem quem são?
— Articuno, Zaxion e... Moltres! — uma das crianças se propôs a responder, levantando sua mão direita. O homem sorri para ela, passando a página, agora fazendo a dobradura da ave azul saltar.
— Você quase acertou, mas a segunda é Zapdos! — corrigiu, erguendo o livro até a frente de seu rosto — As três aves ganharam suas ilhas e cuidaram delas para que ficassem de seu agrado. Blizzfalt é uma obra de Articuno, o titã do gelo — continuou, apresentando a ave e entregando o livro para uma das crianças, o que faz todas se juntarem para ver.
— Uau! Como Articuno ficou forte assim? — perguntou um dos meninos. Tinha os óculos firmes no rosto, amarrados por uma corda que rodeava sua cabeça.
— Articuno recebeu o poder das tempestades de neve quando nasceu, por isso é tão próximo do gelo — o homem explicou, inclinando sua cabeça para a direita, numa tentativa de organizar alguns fios de seu cabelo que viravam para a esquerda — Zapdos tem o poder dos raios e Moltres, o das chamas. Graças a eles, a vida foi capaz de ser estabelecida no arquipélago.
— Senhor, isso tudo é real ou só uma história para criancinhas? — perguntou uma menina de cabelos pretos que cobriam seus olhos. Tinha a pele pálida, e não parecia muito animada.
— Acredito que seja real, afinal, participo dos matsuris das aves lendárias — o homem revelou para as crianças, as deixando espantadas — Sabem que a Liga está acontecendo hoje, não é? No local do evento está tendo um matsuri para as aves, nesse momento.
— Liga? Dos Pokemon? — perguntou a mesma criança de antes.
— A própria! Treinadores de Pokemon viajam pelas três ilhas do arquipélago, passando pela rota de ginásios, lugares onde enfrentam líderes experientes em batalhas e, se vencerem, conseguem uma insígnia. Tendo oito vitórias em ginásios diferentes, podem ir para a Liga Pokemon, onde é decidido o melhor dos melhores — Lyon explicou, empolgando todos.
As crianças estavam maravilhadas com a história contada, e assim continuariam. Agora, conversavam sobre a Liga Pokemon do arquipélago, que acontecia em Glacial City, a maior cidade da Ilha de Blizzfalt.
Matsuris são os grandes atos de demonstração de adoração do povo para, geralmente, entidades da natureza. Dançarinos usando máscaras brancas redondas, todas com uma única pedra alaranjada e oval na testa, apresentavam-se para o público, em frente a uma grande estátua de um homem em pedra.
— Já conhece o Hotel Asa de Ducklett? Cinco estrelas, meu senhor! — uma mulher de avental oferecia um panfleto para um senhor barbudo, que caminhava na rua. Este, parando para ver do se que tratava, descobre ser sobre um dos melhores hotéis da cidade.
Glacial City é composta por muitos prédios comerciais, hotéis, fábricas e lugares de entretenimento, mas também mantinha seu aspecto tradicional, principalmente no que se diz respeito à arquitetura, tendo calçadas de pedras, alguns arbustos aparados para terem formas de Pokemon e postes de iluminação antigos, com lampiões.
— Quem está pronto para os Raccoon?! — uma mulher já não tão nova, usando um longo vestido estampado e um gorro de inverno, perguntou alto no microfone que tinha na mão esquerda.
Após os gritos histéricos dos fãs, ela ergue o microfone, dando início para a apresentação. Atrás de si, seu marido, sua filha adolescente e duas crianças, acompanhados por Zigzagoon, Linoone e Obstagoon, tocavam guitarras. Entre os que assistiam, um homem com capuz castanho apenas encarava o palco, afastado da multidão.
— Desgostante... — ele pensou, virando-se de costas e partindo para ver mais da cidade, reparando na famosa Sorveteria Vanilluxe, com sorvetes artesanais de quase todos os sabores — É o que preciso.
Entrando na sorveteria, o homem percebe uma aglomeração de pessoas na frente da televisão, decidindo ver do que se tratava.
— Termine com Metal Claw! — comandava um menino de cabelos esverdeados, retirando os óculos embaçados em seguida.
Uma doninha de pele escura, que havia confundido seu oponente criando cristais reflexivos de gelo no campo, prolonga suas garras, duras como metal, as cravando no ombro do macaco roxo de duas caudas, Ambipom. Ele não aguenta mais continuar de pé e aceita sua derrota, batendo o queixo no chão. Em seguida, o Pokemon regressa para perto de seu Treinador, ofegante.
— E WEAVILE GARANTIU MAIS TEMPO PARA KHOURY NA FINAL DA LIGA ARGENT! — o narrador da batalha gritava. Sua alta voz quase superava a da arquibancada lotada — Dilan ainda tem dois Pokemon para usar, Weavile precisará se manter em campo para vencer!
— Eu só tenho você, Weavile — pensou, olhando para o placar da batalha, onde a imagem de cinco de seus Pokemon estava apagada. Ele cerra os punhos, mas não para de encarar seu oponente.
— Drapion, esse momento será o seu triunfo! — ansioso por estar vencendo, Dilan arremessa uma nova Pokeball para o alto e logo a pega, liberando um escorpião púrpuro no processo, este que logo rosna para Weavile, o ameaçando com suas pinças. O rapaz ajeita seu colete de mangas rasgadas, enchendo-se de confiança — Isso vai acabar aqui! Cross Poison!
Cruzando seus braços em forma de X, Drapion produzia veneno nas pinças a medida que corria, focando em Weavile.
— Desvie, rápido — Khoury pediu, sabendo que exigiria muito de seu Pokemon com aquele comando, devido a sua quase exaustão.
Conseguindo desviar, Weavile recebe outro comando de Khoury para atacar Drapion, mas o Pokemon é pego no pescoço pela cauda do escorpião, sendo erguido. A platéia fica surpresa, mantendo o silêncio após um "Ohhhh" coletivo.
— É O FIM DE WEAVILE? DILAN SERÁ O NOVO CAMPEÃO DA LIGA? — o narrador aumentava as expectativas, quase engolindo o microfone ao falar.
— Renda-se, seu Pokemon está sofrendo — Dilan sugeriu, cruzando os braços. Seu Drapion sabia como aterrorizar alguém.
— Eu... — Khoury começa a falar, mas um barulho muito alto, similar ao de uma explosão, é escutado. No susto, Drapion solta Weavile, que cai de barriga.
O susto também provoca reações da platéia, onde grande parte das pessoas estava de pé. O narrador da Liga Pokemon nada falou, mas nem precisou. O corredor que levava ao campo de batalha é destruído por uma explosão, dando a certeza do barulho anterior também ter se tratado disso.
— Mas o que é aquilo?! — perguntou Dilan, regressando Drapion para sua Pokeball e correndo para perto de Khoury. Seus cabelos vermelhos estavam arrepiados.
Absorvendo a fumaça que havia se formado, um corpo completamente dourado é revelado, sendo ele o responsável pela explosão, As pessoas espectadoras do combate passam a correr, querendo deixar o estádio com urgência.
— ZAROOHH! — a criatura dourada rugiu, fazendo todo o estádio tremer. Khoury e Dilan podiam notar que era uma raposa, brilhando intensamente.
— Wrav! — Weavile tomou a frente dos garotos, formando cristais de gelo ao seu redor e os comandando para atingirem a raposa dourada.
— Ele não sentiu nada — Khoury notou, percebendo também a raposa procurar algo entre as pessoas na platéia.
— Vamos! — Dilan chamou por Khoury, correndo para o outro corredor de entrada do campo, uma das formas de sair do estádio.
Khoury afirmou com a cabeça e virou-se para correr, mas não sente Weavile junto de si. Ao virar-se, vê seu Pokemon encarando os destroços da parte destruída do estádio, onde um Togedemaru, o Pokemon ouriço metálico, estava preso.
— Weavile, nós precisamos sair! — ele gritou para seu Pokemon, que protesta — Podemos arriscar nossas vidas por isso!
— Wearh! — o Pokemon bate os pés, apontando para Togedemaru. Convencido, Khoury corre para ajudar, e ele o segue.
— Isso é um Pokemon? — perguntou-se em pensamento. A raposa havia saltado para a arquibancada, olhando para todos os lados — Como você veio parar aqui, pequeno? Ainda bem que seu corpo é duro e te protegeu!
Weavile havia levantado alguns pedaços do teto desabado que estava sobre o Pokemon, este sendo resgatado por Khoury. Quando ambos iriam correr para a saída, um homem é arremessado da arquibancada ao campo. Era um velho, com o nariz sangrando, apavorando-se ainda mais quando a raposa saltou para usa frente.
— P-Por favor — pedia o homem, ajoelhado e juntando as mãos. Um Raticate corre para a sua frente, abrindo os braços e balançando a cabeça, tentando comunicar-se com a raposa.
— ZORUAH!! — rugiu em resposta, fazendo o rato cair sentado.
Khoury estava de frente para as costas da raposa, não conseguindo ver seu rosto. Tinha Togedemaru no colo e Weavile ao seu lado, ambos em choque.
— Ótimo trabalho — disse uma voz feminina, que Khoury não sabia de onde veio. Uma luz colorida surge diante da raposa e tudo que o garoto consegue ver é uma mão, segurando uma seringa e a injetando em Raticate, o fazendo gritar de dor.
— Weavrah! — boquiaberto, Weavile se cola ao corpo de Khoury, que dá dois passos para trás.
O corpo de Raticate crescia e sua cor mudava. Os pelos passavam a ficar completamente dourados, e logo não gritava mais. Khoury não sabia o que estava acontecendo, mas a voz feminina soou de novo.
— Break Explosion.
A raposa move seus braços, que eram carregados por energia dourada, esta sendo disparada para o chão e iniciando uma nova explosão. Os ouvidos de Khoury passam a zumbir e ele fecha os olhos, até sentir duas mãos em seu peito, o puxando para cima.
— Hmm... — Khoury murmurou, abrindo os olhos com dificuldades. Sua cabeça estava dolorida e ele pensa a princípio ser por não estar de óculos, mas logo lembra do que aconteceu, inclinando o corpo e sentando-se.
— Huh? — notando Khoury despertar, uma mulher de longos cabelos loiros e um vestido lilás corre até ele — Como está, Khoury?
— D-Diana — pronunciou o nome da mulher, então olhando ao seu redor. Sentado na grama, sua cabeça estava apoiada num tronco de árvore. Haviam flores por todos os lados, mas sem sinal de algum Pokemon. Ele também repara num arco íris no céu, apenas com a ponta aparecendo — Eu... Como vim parar aqui?
— Faaa! — um Ampharos entrega os óculos para Khoury, sorrindo. O menino vê Weavile ao seu lado, mastigando algo.
— Eu fui verificar se alguém não conseguiu deixar o estádio, então aconteceu aquela explosão e Ampharos o resgatou — Diana explicou, sentando ao lado de Khoury — Weavile estava preocupado com o Togedemaru, mas ele foi devolvido ao seu dono. Você não deveria ter continuado no estádio!
— Desculpe, Diana — pediu, curvando-se, ouvindo a mulher esconder sua risada baixinha com as mãos — Weavile me convenceu a ficar e ajudar o Togedemaru...
— Oh! Que nobre, Weavile! Precisou ser convencido? — ela perguntou para Khoury, que observava Weavile aproveitar o cafuné de Diana, não conseguindo responder — O importante é você estar salvo, não se preocupe! Seu pai daria uma bronca muito mais séria.
— Hehe — riu, olhando para as flores a balançar com o vento. Percebeu que a maioria eram iguais, Gracideas rosadas — Sinto falta dele...
— Você não venceria aquela batalha, Khoury — Diana disse, séria. O menino cora, mas no fundo já sabia disso.
— Eu sei, percebi durante a batalha, não estava indo bem. Jurei pro meu pai que ficaria mais forte, cheguei até aqui por ele! — exclamou, cerrando os punhos. Seus olhos brilhavam só de pensar em seu pai.
— Faça por si também, já está na hora disso! Sei que não quer me superar, mas como pretender vencer a Liga se não for por você e seus Pokemon? — ela perguntou, embolando os pensamentos do garoto, que não tinha uma resposta para isso — Não estou brigando, só te alertando.
— Relaxa! Me sinto privilegiado por poder falar com você assim — Khoury diz, ouvindo a mulher rir de novo.
— Não é porque sou a Campeã do Arquipélago que isso me faz inacessível! — reclamou, agora fazendo o menino rir.
— Mas afinal, onde estamos, Diana? Aqui nem tem sinais de neve, não parece Blizzfalt! — perguntou, levantando e caminhando pelas flores. Weavile colocava uma na cabeça de Ampharos, que juntava as mãos encantado.
— Se chama Jardim Gracidea, é meu lugar preferido! — respondeu, recebendo uma flor de Ampharos e o beijando na testa como agradecimento — Ninguém pode entrar aqui, é um templo sagrado da natureza, protegido por uma de suas forças Elementais... Mas eu o trouxe, mesmo assim!
— Eh? E isso não vai irritar alguém? — perguntou, olhando para os lados, preocupado.
— Não, acalme-se! Deixe tudo comigo. Quis trazê-lo para descansar, mas o ideal seria você voltar para o Hotel Asa de Ducklett. Se não me engano, os participantes da Liga têm direito a um quarto lá... — falou, pensativa, até que se lembra de algo — A Liga Pokemon! Okay, eu preciso deixá-lo no hotel, tenho muitas coisas para resolver!
— Diana?? Então por que me trouxe até aqui? — perguntou, regressando Weavile e colocando sua mochila nas costas — Você vai se prejudicar!
— Também gosto de fugir das responsabilidades, não é fácil ter que lidar tantas coisas, okay? — perguntou, levantando-se e juntando as mãos, ficando em silêncio por alguns segundos. Estava rezando para o protetor do Jardim — Estou pronta. Vamos, Khoury!
Já de noite, Khoury estava no seu quarto do Hotel Asa de Ducklett, em Glacial City. Tinha uma luminária acesa e usava seu pijama com gorro listrado, tendo caneta em mãos e a televisão ligada.
— O Estádio Glacial, onde a Liga Pokemon acontece todos os anos, foi completamente destruído. Relatos contam que tratava-se de uma criatura dourada, semelhante ao Pokemon Zoroark — a repórter falava, mexendo em algumas telas projetadas por hologramas, exibindo a foto de um Zoroark normal — O Professor Acácio, cientista conhecido no Arquipélago, não foi encontrado, sendo o único desaparecido até o momento.
— Acácio... — Khoury pensava, lembrando-se do homem e seu Raticate, que tornou-se dourado como a raposa. Ele leva as mãos até o coração, aflito — Era ele...
— Wrav! — Weavile rosnou, vendo Khoury se levantar da cama rapidamente e pegar seu Notebook — Wea?
— Se tem uma coisa que eu entendo bem, é pesquisar — Khoury disse para Weavile. O mesmo revira os olhos, sabendo que ele passaria a noite inteira assim.
— Nunca foi visto um Zoroark dourado antes, nem mesmo sequer outro Pokemon completamente dessa cor, então ainda está sendo averiguado a veracidade das informações — a repórter continuava — Para já, fiquem com a novela de Karina Rodeo. Eu sou Cecília e esse foi o Boa Noite, Blizzfalt!
— Boa noite — Khoury respondeu, involuntariamente, apertando o botão de sua caneta e ouvindo o click. No notebook, pesquisava por Pokemon dourados e abria um programa de bloco de notas.
— Boa noite — Khoury respondeu, involuntariamente, apertando o botão de sua caneta e ouvindo o click. No notebook, pesquisava por Pokemon dourados e abria um programa de bloco de notas.
Continua